domingo, 4 de setembro de 2011

O ponteiro acerta na hora pretendida.
Veste o melhor vestido. Batom rouge, eyeliner e máscara.
Cabelo perigosamente solto, perfume no ar e salto alto.
A noite é fria e sarcasticamente reconfortante; p'ra quê temer o escuro? Tudo é tão belo e difuso.
Deixa-se a noite escorrer pela garganta; o batom desbota nas veias e é-se feliz.
Quer-se deixar os olhares frios p'ra depois, mas as íris não obedecem e deslizam de perspectiva sem que se dê conta.
O ponteiro acerta na hora morta.
A noite despede-se e ameaça com a brilhante promessa de sol.
O vestido, o melhor, parece feito de pó ao jazer esquecido na cama, descobrindo um corpo nu que nada mais pode despir.
Matizes de cor escorrem da face para o papel, esmorecendo a obra-prima. E a luz.
A sensação de efemeridade é imensa e avassaladora. Há um vazio que nem de palavras se pode encher. Que resta? Imagens? Memórias? Cega as tuas íris, darling. Elas podem deixar-te louca.

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